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Lançado em 2020 como um fórum, dispositivo está sendo expandido e transformado em curso; confira guia de onde pedir ajuda

(Imagem: Reprodução/AVA PPE)

Quando a pandemia impôs o isolamento social, imediatamente especialistas alertaram para os riscos do aumento à violência contra a mulher, já que, uma vez confinadas junto aos seus agressores, seria muito mais difícil que as vítimas pedissem socorro. Pensando em disponibilizar um canal de acolhimento às trabalhadoras-educandas do Projeto Primeiro Emprego (PPE), a equipe técnico-pedagógica criou o “É Preciso Falar”, um fórum que virou curso dentro do Programa de Aperfeiçoamento Profissional.

O acesso ao curso será liberado nesta quarta-feira, 10 de agosto, e na semana seguinte, haverá uma live de lançamento com a participação de pesquisadoras que estudam as repercussões da violência na vida das mulheres. A transmissão será pela TV FESF no YouTube.

Idealizadora do “É Preciso Falar” e coordenadora do PPE na Fundação Estatal Saúde da Família (FESF-SUS), Luzia Delgado recorda que, logo no início da pandemia, quando estava em trabalho home office, ela recebeu o vídeo “Campanha Call”, do Instituto Maria da Penha, uma peça publicitária feita para alertar sobre a violência doméstica na quarentena.

“Aquilo me tocou como mulher e na mesma hora pensei que precisávamos fazer alguma coisa dentro do PPE que pudesse ser um espaço de acolhimento. Levei a ideia para a equipe, que entendeu que seria interessante abordar essa temática e construímos esse espaço no Programa de Aperfeiçoamento Profissional”, conta ela.

Construído com o apoio a Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres (SPM), o fórum foi integrado ao AVA com suporte da assistência social do projeto e de uma tutora, responsável por mobilizar o canal com conteúdo que provocasse reflexões. Esse espaço foi sendo preenchido com materiais formativos, que listam leis de proteção à mulher e tipos de violência, dando suporte para a autoidentificação dos crimes e problemas relacionados. 

Nilma Santos, coordenadora do Programa de Aperfeiçoamento PPE, reforça que “a mudança do espaço para um curso aberto ao público beneficiará o diálogo não só entre as trabalhadoras educandas, mas, entre todos os trabalhadores FESF que se envolvam no fórum do É preciso Falar, sendo um espaço de formação coletiva”, justifica.

O espaço se revela importante diante das estatísticas de beneficiados pelo PPE. Dos mais de 1.500 trabalhadores-educandos do projeto, 80% são do gênero feminino. Ou seja, cerca de 1.200 são mulheres, e destas, 88% são mulheres negras, o equivalente a mais de mil beneficiárias. 

Nesse grande número de trabalhadoras, casos de situações de violência acabam sendo compartilhadas com a equipe do projeto, que tem outras formas de acolhimento.

Uma história de acolhimento

Egressa do projeto, a técnica de enfermagem Lúcia Karen*, na época com 21 anos, pode contar com uma rede de proteção do PPE quando, naquele ano, se viu diante de situações de violência física e psicológica por parte de um ex-companheiro. Moradora do Extremo-Sul da Bahia, ela foi convocada pelo PPE para trabalhar em uma unidade de saúde dessa região, fora da sua cidade, onde conheceu um rapaz, com quem se envolveu por 3 meses.

“Fomos conversando, saindo e esses encontros foram intensificando. Eu estava morando sozinha, ele era muito presente, me ajudava a resolver as coisas. Depois, ele começou a querer controlar o que eu usava, onde eu ia. Queria sempre me levar nos lugares. Um dia, minha mãe veio me visitar e ele queria que eu dormisse na casa dele. Eu disse que não e, no meio da discussão, ele me pegou forte pelo braço e me jogou na parede”, lembra.

Lúcia não contou a ninguém sobre a agressão e terminou o relacionamento. Mesmo assim, o rapaz sempre estava por perto, enviando flores e mensagens carinhosas. Longe de casa, sem o suporte da família, a técnica diz que provavelmente isso influenciou na dependência desse suposto “carinho” e atenção. 

“Ele dizia que [a agressão] foi uma coisa que nunca tinha acontecido. Parecia convincente e fazia eu me sentir culpada pela situação, dizendo que eu era muito teimosa, que eu só queria tudo do meu jeito”, conta. Num réveillon, ele fez uma surpresa: comprou uma aliança e a pediu em namoro. Logo depois, veio a proposta de morarem juntos. “Eu estava sozinha, não estava me adaptando e a casa dele era mais confortável. Ninguém me apoiou, diziam que estava muito cedo, mas mesmo assim, decidi ir”, relata.

Dois dias no imóvel foram suficientes para mais uma série de violências, que incluíram ofensas, puxões nos braços e empurrões, além de ter tomado o celular dela. Machucada, ela contou para as colegas de trabalho no dia seguinte e chorou. As amigas a encorajaram a voltar para o antigo apartamento e a ajudaram a pegar os pertences com um carro. 

“Uma amiga me mandou uma mensagem perguntando se eu estava bem. Ele viu e deduziu que eu tinha contado para elas e começou a falar que eu estava difamando ele”, recorda.

Algum tempo depois, ela teve covid-19 e publicou nas redes sociais. Isolada em casa, Lúcia passou a receber mensagens do ex dizendo que “ela tinha acabado com a vida dele”. Com medo, a técnica ligou para a Delegacia da Mulher pedindo orientação. A delegacia instruiu que, para dar entrada em uma Medida Protetiva, era necessário apresentar evidências e, por isso, ela aceitou se reencontrar com ele para conseguir gravar as ameaças.

“Ele foi com uma arma, me mostrava e me ameaçava de forma disfarçada, dizendo que sempre teve ela em casa, que poderia ter usado, mas que me amava e nunca faria isso. Achei que fosse morrer”, diz. Lúcia fez contato com a assistente social do PPE para saber se conseguia ser transferida de cidade, mas, pelo protocolo, era necessário ter cumprido um ano de contrato e concluído o Projeto de Melhoria. Ela não tinha nenhum dos critérios.

Apesar dos critérios, também é protocolo da assistência social fazer uma escuta mais qualificada para entender o pedido. Assim, a assistente social quis entender por qual razão Lúcia queria mudar de cidade. A técnica contou tudo e a FESF, então, passou a articular a transferência da trabalhadora enquanto a medida protetiva não saía. “Eu não podia abrir mão da minha vida profissional”, relata Lúcia.

“Foi um alívio. Eu nem acreditava que isso estava acontecendo. Nunca soube de um órgão que tivesse feito algo assim, achei que não conseguiria por se tratar de algo burocrático. Pensava que seria muito trabalhoso, mas conseguimos. Eu me senti muito acolhida por todos. Ninguém duvidou de mim e é por isso que acredito que as mulheres precisam ser incentivadas a falar e denunciar”, resume Lúcia.

A assistente social, Juliana Novais, diz que, enquanto mulher, se sentiu tocada com o caso e que o desligamento da trabalhadora nunca foi uma possibilidade, afinal o projeto estava diante de uma mulher sofrendo violações de direitos. 

“Foi uma alegria garantirmos a permanência dela no projeto, permitindo, ainda, que ela ficasse mais próxima da sua rede de apoio, seus familiares e amigos. Lúcia é inspiradora e compartilhou sua história, confiou em nossa escuta e condução. A violência à mulher não tem cor, nem classe social, mas certamente afeta mais mulheres negras e de classe social mais baixa. Precisamos estar atentas a esse recorte para combater práticas abusivas”, completa Novais.

Dados

No ano de 2021, mais de 66,5 mil denúncias de violência contra a mulher foram registradas na Bahia, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA). A principal queixa foi de ameaça, com 34 mil registros. As outras denúncias mais frequentes foram de injúria (12,7 mil), lesão corporal dolosa (9,8 mil), difamação (5,3 mil) e estupro (2,8 mil). No ano passado, 66 mulheres foram vítimas de feminicídio na Bahia, segundo estatística da Rede de Observatórios da Segurança. 

SAIBA ONDE ENCONTRAR AJUDA PARA DENUNCIAR:

Zap Respeita As Minas – SPM
(71) 99909-9322

Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal
Disque 180

Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência na Bahia
Download da lista de locais

App PenhaS
É um aplicativo onde mulheres se encontram para apoiar umas às outras nas violências que sofrem. A plataforma possui um mapa com os serviços públicos de atendimento às vítimas de violência em todo o Brasil. As usuárias podem escolher até cinco pessoas de sua confiança para acioná-las em caso de urgência.

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